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quarta-feira, 23 de setembro de 2009

AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE ENSINO NO PARANÁ - AVA (PARTE I)





Situação atual e perfil da demanda no Paraná

A Avaliação do Sistema de Ensino no Paraná, AVA-2000, demonstrou, como exposto anteriormente, o baixo grau de proficiência em Ciências (assim, como, em Língua Portuguesa e Matemática). Adicione aos dados apresentados, aqueles relativos ao percentual de desaprovação dos livros didáticos em uso no último ciclo do Ensino Fundamental: chega a 80% em várias das 4.000 escolas avaliadas.
Nossas licenciaturas (Biologia, Física e Química) têm mensurado um grau bastante elevado de carências no professor de Ensino Médio. São essas carências de formação, aliadas a toda uma política equivocada de ensino, e de subtração do poder público na Educação, que tem levado ao quadro preocupante revelado pela AVA-2000. Os dois quadros abaixo expressam sinteticamente os vários níveis de proficiências em Ciências no Ensino Fundamental (4ª e 8ª séries). Os Níveis III e IV são aqueles, mais ligados às operações lógico-formais, que não estão sendo atingidos pelos alunos. Em negrito estão sublinhados os temas que interessam mais diretamente ao presente projeto e que justificam nossa preocupação em relação a um ensino de ciências integrado, interdisciplinar, plural e ligado às coisas do cotidiano.

Níveis e Proficiências em Ciências – 4ª série do Ensino Fundamental
Nível II – Os alunos apresentam, em relação ao meio ambiente, conhecimentos iniciais sobre as conseqüências do desmatamento para a qualidade de vida e sobre as formas de evitar a poluição do ar e da água. Quanto à saúde, também começam a reconhecer os males do fumo para as pessoas que convivem com fumantes, como evitar verminoses, os problemas provocados pelo excesso de peso e a relacionar a postura do corpo aos problemas da coluna vertebral. Sobre o corpo humano, começam a compreender a função das glândulas sexuais e identificam as substâncias eliminadas pela pele.
Nível III – Os alunos demonstram, em astronomia, conhecimentos iniciais para relacionar o movimento de rotação da Terra com a ocorrência dos dias e noites com as mudanças do clima. Em relação ao meio ambiente, começam a reconhecer as conseqüências do lixo industrial e os fatores responsáveis pela extinção dos animais e, em relação à área de saúde, também começam a reconhecer comportamentos para prevenir AIDS. Sobre o corpo humano, começam a compreender a função da bexiga urinária e do sangue.
Nível IV – Nesse nível, em saúde, os alunos demonstram conhecimentos iniciais sobre a importância de uma alimentação adequada. Sobre o corpo humano, começam a compreender a função do sistema circulatório. Quanto ao meio ambiente, estão mais adiantados ao relacionar as condições do clima ao plantio. Os alunos também demonstram ter aprendido os conteúdos citados nos níveis anteriores. No entanto, demonstram ainda não ter aprendido a função dos órgãos dos sentidos, da pele e dos rins e a relação entre o hábito de fumar e a ocorrência de partos prematuros.


Níveis e Proficiências em Ciências – 8ª série do Ensino Fundamental
Nível II – Em relação ao meio ambiente, os alunos já começam a entender as relações de causa e efeito dos seres produtores de alimentos dentro da cadeia alimentar. Também começam a identificar as causas da diminuição da camada de ozônio e da formação de chuvas ácidas. Sobre a saúde, começam a associar a anemia à redução dos glóbulos vermelhos, a qualidade do ar à ocorrência de doenças e as condições de ventilação do ambiente à saúde. Reconhecem atitudes dos jovens em relação ao uso de drogas e os efeitos dos agrotóxicos ao organismo. Começam a compreender a função do sangue e a ação dos hormônios. Estão mais adiantados ao estabelecer relação de ciclo dia/noite com os hábitos dos animais e da função dos mesmos na fertilização do solo.
Nível III – Em relação ao meio ambiente, os alunos começam a entender a ação de microorganismos na fermentação de energia na fotossíntese e sua relação com a respiração dos outros seres vivos, a interdependência dos seres vivos com os elementos da natureza e o funcionamento de usinas hidroelétricas. Na área de saúde, começam a reconhecer as formas de prevenir doenças sexualmente transmissíveis e de proteger a pele dos raios solares, bem como reconhecer as conseqüências do uso inadequado de antibióticos e o uso da biotecnologia para a saúde e a gravidez. Sobre o corpo humano, começam a identificar as células do sangue e compreender a função dos órgão dos sentidos e dos rins. Sobre astronomia, estão mais adiantados ao relacionar o movimento que a Terra faz em volta de si mesmo com a ocorrência do dia e da noite, e demonstram ter aprendido a posição da Terra no sistema solar.
Nível IV – Nesse nível, em relação ao meio ambiente, os alunos demonstram conhecimentos iniciais sobre a importância dos manguezais, sobre os efeitos da queima dos derivados de petróleo e as substâncias que compõem os seres vivos. Sobre o corpo humano, começam a identificar as mudanças físicas que acontecem na adolescência e a função do sistema excretor. Os alunos demonstram ter aprendido alguns conteúdos a respeito do meio ambiente. Por exemplo, identificar os organismos usados na produção de bebidas e antibióticos, as fontes de energia elétrica que não prejudicam o ambiente, as relações desarmônicas entre os seres vivos, as relações entre as queimadas e o aumento de temperatura na Terra e entre poluição e doenças. Também não sabem alguns conteúdos sobre saúde e o corpo humano, pois não reconhecem a hemodiálise como forma de filtração do sangue, os órgãos do sistema digestivo e as funções do núcleo da célula. A respeito de tecnologia, não reconhecem as possibilidades de manipulação genética.

A última frase do Nível IV da tabela acima, mostra que, mesmo nesse nível, a manipulação genética e todas suas implicações para a pesquisa, para a agricultura, para a medicina, o aluno não foi preparado para interpretar uma nova ciência na qual se edificará as primeiras décadas do século XXI.
Como não dispomos ainda de uma avaliação do Ensino Médio para o Paraná, mas como temos resultados obtidos em nossos estágios de Licenciatura, nas dissertações de Mestrado em Educação para a Ciência em preparação, e em mini-cursos e palestras que temos levado adiante nos últimos anos, conhecemos que as proficiências necessárias mal chegam ao início do nível III, se pensarmos as habilidades requeridas pelos PCNs do Ensino Médio.
Diante de todo este quadro, temos uma demanda bastante elevada por cursos de Licenciatura que possam minorar o quadro que temos, infelizmente, presenciado.
O perfil dessa demanda é aquela de um professor que busca quebrar os limites de sua disciplina; que busca uma inter e transdisciplinaridade que o mergulhe no mundo de sua cotidianeidade, mas que o permita decifrar os símbolos da ciência contida nas revoluções científicas e tecnológicas que ocorrem em todas as áreas da física e de suas ligações inter e transdisciplinares, como a biotecnologia, a genômica, o ecodesenvolvimento, os modelos matemáticos para a compreensão de diferentes temas etc.

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